Um crápula paramentado
Parou para meditar.
Refletiu-se no espelho,
Pôs-se de joelhos e chorou
Lágrimas amorais.
Ficou a admirar-se.
Mirou-se à distância,
Desde a infância até nunca mais.
Repensou cada ato
E num ato de rebeldia
Disse que se perdoaria
Se um dia tivesse errado.
Recompôs-se.
Cofiou a barba,
Alinhou os cabelos,
Fê-los belos e modernos.
Rebateu o terno de linho
Como quem sacode a poeira.
Foi à beira da cama,
Olhou o espelho derradeiro,
Lançou-se ao leito e,
Sem se despojar das vestes,
Dormiu o sono dos perfeitos.
(Ilustração: Estêvão Falcirolli Albiero)
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